Motorista do ônibus diz que fez veículo tombar porque não conseguia freá-lo

18/11/2011 10:35

 

Mariana Laboissière

Thaís Paranhos

 

O motorista do ônibus da El Shadai Transporte e Turismo, Isaque Correia de Almeida, chegou ontem a Brasília. Ele saiu de São Paulo a bordo de um avião, desembarcou na capital por volta das 10h e foi direto para Ceilândia, onde mora com a família. Inconsolável, o condutor do coletivo — que se acidentou na última terça-feira na Rodovia Floriano Peixoto Rodrigues Pinheiro, em São Paulo, matando 10 pessoas — aceitou falar com exclusividade ao Correio. Ele contou que o grupo decidiu encurtar a viagem porque chovia muito e o passeio ficou comprometido. Mas Isaque pegou a estrada preocupado com o tempo ruim. “Não adiantava correr, fui devagar porque precisava chegar em casa com segurança”, disse.

Durante todo o dia, ele permaneceu na casa de um cunhado, na QNP 26. Ao lado da família, contou à reportagem os momentos que antecederam a tragédia. “Desci a serra com muito cuidado. A velocidade não passou dos 30km/h”, detalhou. Mas, durante o trajeto, o motorista ouviu um estalo. Foi nesse momento que precisou tomar uma decisão rápida. “A sensação é de que o carro deu um pulo para frente, parecia estar solto e a velocidade foi aumentando. Optei por deitar o ônibus no muro para tentar salvar as pessoas porque do outro lado havia um abismo. Precisei de coragem para fazer o que fiz”, defendeu-se Isaque.

De acordo com o procurador da El Shadai, Jarley Brito Arruda, o condutor do ônibus pensou que poderia atingir outros veículos, por isso, decidiu parar, a qualquer custo, o coletivo. “Aquela é uma rodovia movimentada, onde passam vários caminhões de carga”, pontuou o advogado. Problemas no freio poderiam ter sido identificados no ato da vistoria, admite Jarley. Ele ponderou, contudo, que falhas possam ter ocorrido durante a viagem. Segundo o procurador, a empresa conta com três ônibus. O veículo acidentado tem quase 10 anos de uso e estaria no nome de Isaque.

Desespero
Entre as lágrimas, Isaque revelou o que passou após o acidente. “Me deu um desespero quando consegui sair do ônibus. Aquelas vidas estavam nas minhas mãos”, recordou. “Não consigo entender por que isso aconteceu, os pneus estavam novos e o carro, vistoriado”, disse.

A El Shadai Transporte e Turismo cometeu, pelo menos, três graves falhas, como mostrou o Correio ontem. Mas o Jarley Arruda assegura que há argumentos para todas. Embora não tivesse autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para circular em vias interestaduais, a empresa apresentou documentação para cadastro na entidade. “Alguns documentos retornaram por falta de autenticação, como a apólice de seguro, o CRLV e o contrato social. Mas estava encaminhado”, esclareceu Jarley. “É importante deixar claro que o ônibus acidentado passou por inspeção técnica que avaliou todos os itens de segurança.”

O advogado também justificou a habilitação vencida de Isaque. “Ele não tinha se atentado para a validade. Mas apresentou documento comprovando que estava em processo de renovação, o que possibilitou a ele guiar o veículo após a autuação pela PRF”, disse o advogado. Quanto aos motivos de ter ignorado a determinação da Polícia Rodoviária Federal para retornar a Santo Antônio (GO), Jarley afirmou que a Ldtur orientou o motorista a seguir viagem. Isaque confirmou. “Liguei para o Edmilson (dos Santos, dono da Ldtur). Ele e os passageiros optaram por seguir o trajeto”, revelou o condutor. Procurado pelo reportagem, Edmilson não se pronunciou.

Punição
O artigo 1º, inciso IV, alínea “a” da Resolução nº 233/2003 da ANTT prevê multa de 40 mil vezes o valor da tarifa para quem executar serviço de transporte rodoviário interestadual ou internacional de passageiros sem prévia autorização ou permissão da agência.