DF: Infecções da leishmaniose colocam o Distrito Federal em estado de alerta

05/02/2011 08:30

 De janeiro a setembro de 2010, a Secretaria de Saúde do DF confirmou o mal em 30 pessoas, apesar de nenhum caso fatal. Exames também deram positivo para 127 animais


Flávia Maia

 

A professora Darci Nunes adora cães. A nova aquisição para a família é a cadelinha que ela ganhou de um pet shop, no Lago Norte. Dos cuidados com a filhotinha, a possibilidade de o animal contrair leishmaniose visceral aparece como a maior preocupação. Isso porque a educadora perdeu dois cachorros por causa da doença. Negão foi o primeiro infectado. Ela o tratou por um ano e meio, mas o cão não resistiu. Dois anos depois, o mal matou Morena. Só resta Loura de todos os labradores da casa.

Darci tem razão em se preocupar, pois casos de leishmaniose em cachorros se tornaram frequentes nos consultórios do Lago Norte. Na clínica Saúde Animal, no Centro de Atividades, de cada 10 animais, nove estão com suspeita de terem sido infectados pelo protozoário leishmania. Quinze estão hoje internados. No Instituto de Sanidade Animal, a situação se revela semelhante. A veterinária Christina Goulart sacrifica pelos menos três animais por semana. “Tenho sentido o aumento da leishmaniose no meu consultório. Os casos não param de chegar”, contou a veterinária.

Nos consultórios do Lago Sul, a doença aparece com frequência parecida. Na Clínica Animart, três cachorros doentes deram entrada nas últimas duas semanas. Na Big Dog, dois ou três saem da clínica com o diagnóstico positivo de leishmaniose desde o início de janeiro.

A Vigilância Sanitária do Distrito Federal descartou a hipótese de surto no Distrito Federal. Segundo a veterinária da Diretoria de Vigilância Ambiental Maria do Socorro de Carvalho, a doença é endêmica na capital do país e se concentra nas regiões do Lago Norte, Varjão, Lago Sul, Sobradinho II, Fercal e Grande Colorado. “A leishmaniose não vai acabar, vai ocorrer sempre. É uma doença causada por um agente, e a população tem que se prevenir contra o mosquito. Só assim vai diminuir”, explicou.

O mal é perigoso, pois pode ser transmitido ao ser humano (leia Memória). O ambiente úmido e a matéria orgânica em decomposição são os ambientes ideais para a proliferação do mosquito-palha, transmissor do parasita. Por isso, quintais, lixões e galinheiros devem ser monitorados ou extintos. “Eu limpo meu quintal e não deixo fruta apodrecer no chão, atraindo o mosquito. Mas a minha vizinha não faz o mesmo, e a doença só cresce”, reclamou a professora Darci.

De janeiro a setembro do ano passado, a Secretaria de Saúde do DF realizou 1.307 exames gratuitos em cachorros — 127 casos deram positivo. Houve 63 casos suspeitos em homens e mulheres, sendo que 30 acabaram confirmados. Até o fim de janeiro de 2011, nenhuma suspeita da doença em seres humanos foi registrada.

Vacina
A leishmaniose é causada por um protozoário e depende do mosquito como vetor para levar o parasita até a corrente sanguínea do infectado. Para tentar conter a doença, os veterinários do Lago Norte recomendam a vacina contra o leishmania, para todos os cachorros com cinco meses de vida. A prevenção custa entre R$ 90 e R$ 120.

Porém, a Vigilância Sanitária do DF, sob as instruções do Ministério da Saúde, não recomenda o procedimento. “O tratamento de animais doentes não é uma medida aceita para o controle da leishmaniose, pois poderá conduzir ao risco de selecionar parasitas resistentes às drogas utilizadas para o tratamento de casos humanos”, orientou a segunda edição do Manual da Leishmaniose, lançado em 2007 pelo governo federal. “A eficácia não é garantida, e os laboratórios não souberam responder várias questões sobre os reais efeitos e os colaterais”, explicou a veterinária Maria do Socorro. Quanto ao sacrifício de animais, ela é indicada para casos avançados da doença.